Dos Pirenéus ao Barrio Chino (com três pratos e vergonha alheia)

10-07-2025
Aventura no Bairro Chino década de 1980 (com três pratos e vergonha alheia
 

Numa sexta feira… ao fim da tarde, fui convidado por um colega de trabalho para dar uma volta.

Aquelas voltas que supostamente são para aliviar o stress, mas que acabam por meter mais adrenalina no corpo do que um salto de ponte com corda de varal.

O colega — vamos chamar-lhe o Zé das Aventuras — não era propriamente amigo.

Era daqueles charados que aparecem nos intervalos da vida com planos mal amanhados e energia de quem já tomou três cafés a mais.

Fui a casa tomei banho, lá fomos, estrada fora, curvas e mais curvas, durante uns 85 km.
"Vamos jantar ao restaurante mais famoso da zona", dizia ele.

Famoso era. Ficava ao lado da estrada principal, onde os emigrantes paravam nem que fosse só para 'molhar o terreno' e tomar café ao som música de Juan Manuel Serrat.

Três pratos, garrafinha de tinto, café com conhaque e, vá, dignidade a meio gás.

Depois mais 150 km. Eu já pensava que íamos atravessar os Pirenéus ou ser vendidos numa feira.

Chegámos tarde, aterrados em Barcelona — cidade linda, mas naquela noite o GPS moral ficou desligado.

Primeira paragem: Las Ramblas, cervejas, caracóis e café. Bela combinação para preparar o estômago para o que viria a seguir: o Barrio Chino.
Para quem não sabe.... na epoca em 1988, era 
prostituição, pobreza, tráfico e vida noturna intensa. 

"Duas cubatas!"  gritou o Zé das Aventuras.

Era cedo, 01h00 da manhã, e o ambiente ainda parecia de missa de sétimo dia. Ele olhou para mim com ar de quem ia mudar a nossa sorte. E mudou — mas para pior.

Decidiu que aquele buraco não servia. Disse "vai saindo que eu pago". Ingénuo, obedeci. Quando me dou conta, o homem sai atrás de mim — sem pagar. O empregado que nos serviu  ficou paralizado a olhar com cara de Windows a travar, a verdade é que o Zé das Aventuras,  tinha uma cara de bicho, que nem apetecia perder tempo.

Eu, mais tenso que amortecedor de Fiat, já só queria voltar. Mas o Zé?
"Bora para outro!" E lá fomos, metemo-nos num antro com cheiro a desinfetante vencido e promessas baratas.

Um ambiente? Brutal. Pesado. Mulheres perdidas, homens à procura de sarilhos, e nós no meio, feitos figurantes de filme do Almodóvar versão low-cost. Nova ronda, nova fuga. Outra vez sem pagar. E eu só pensava: "Hoje apanho p.ta uma cossa e ainda tenho que agradecer."

Saltámos de tasco em tasco, de confusão em confusão, e gastámos quase nada — o que é irónico, porque o que pagámos em sustos dava para uma semana num spa.

Milagrosamente, acabámos a noite a dormir na praia. Não sei como. Só sei que acordei com areia na boca, um sapato perdido e a certeza de que nunca mais saía com o Zé das Aventuras.
 

Moral da história:

Desconfia sempre de colegas com planos para aliviar o stress. 
Se o plano inclui 180 km, três pratos e uma visita ao Bairro Chino... meu amigo, prepara o capacete.

Se alguma vez um colega te convidar para descontrair, recusa. Diz que tens de lavar o cabelo. Mesmo que sejas careca.
Porque às vezes, o verdadeiro stress começa… quando o stress supostamente acabou.



 

Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora