O Cávado Não Faz Vinho, Mas Deixa Saudade

O Cávado Não Embriaga, Mas Dá Que Pensar
O Douro é bonito, sim.
Bonito e falador.
Mas do nosso Cávado, ninguém fala.
Mas o nosso rio, não precisa de palcos.
Nasceu discreto, lá em cima na Fonte da Pipa, Serra do Larouco, onde o vento fala sozinho e as pedras ainda sabem o nome das nuvens.
Não nasceu para ser visto.
Nasceu para sentir.
Passa por montes, vales e aldeias esquecidas no tempo.
Ouve as vacas ao longe, ouve os passos dos velhos nos caminhos de terra batida, o riso das crianças que ainda sabem brincar com paus e poças de água.
Não carrega turistas. Carrega segredos.
O Douro é um rio de palco.
O Douro embriaga.
O Cávado é um rio de casa.
O Cávado embala.
Passa por Braga, de longe, como quem não quer interromper a festa da cerveja, ou o bananeiro.
Desliza por Barcelos a ouvir galos a mentir e feiras a respirar
E depois vai morrer — ou talvez descansar — em Esposende, em silêncio.
Sem despedidas.
Porque os rios, tal como as pessoas, não valem pelo barulho que fazem…
mas pela paz que deixam quando passam.
O Cávado é esse.
Quem o conhece, não o esquece.
Quem nele se lavou em miúdo, carrega-o para sempre na alma.
Porque há rios que nos levam para longe.
E há rios que nos trazem de volta a nós.
Ah… e há um ponto no nosso rio onde ele se estica, espreguiça-se ao sol e murmura: Volta sempre Mingos, esta é a tua ponte.
Ponte de Prado.
Na alma para sempre.