O Cávado Não Faz Vinho, Mas Deixa Saudade

11-07-2025

O Cávado Não Embriaga, Mas Dá Que Pensar


Todo mundo fala do Douro — das rabelas, dos vinhos, das margens cheias de turistas com chapéu de palha, caneca na mão, e a tirar fotografias como quem tenta aprisionar uma alma num quadrado digital.

O Douro é bonito, sim.
Bonito e falador.

Mas do nosso Cávado, ninguém fala.
Mas o nosso rio, 
não precisa de palcos.

Nasceu discreto, lá em cima na Fonte da Pipa, Serra do Larouco, onde o vento fala sozinho e as pedras ainda sabem o nome das nuvens.

Não nasceu para ser visto.
Nasceu para sentir.

Passa por montes, vales e aldeias esquecidas no tempo.
Ouve as vacas ao longe, ouve os passos dos velhos nos caminhos de terra batida, o riso das crianças que ainda sabem brincar com paus e poças de água.

Não carrega turistas. Carrega segredos.

O Douro é um rio de palco.
O Douro embriaga.

O Cávado é um rio de casa.
O Cávado embala.

Passa por Braga, de longe, como quem não quer interromper a festa da cerveja, ou o bananeiro.

Desliza por Barcelos a ouvir galos a mentir e feiras a respirar

E depois vai morrer — ou talvez descansar — em Esposende, em silêncio.

Sem despedidas.

Porque os rios, tal como as pessoas, não valem pelo barulho que fazem…
mas pela paz que deixam quando passam.

O Cávado é esse.

Quem o conhece, não o esquece.

Quem nele se lavou em miúdo, carrega-o para sempre na alma.

Porque há rios que nos levam para longe.
 
E há rios que nos trazem de volta a nós.

 

Ah… e há um ponto no nosso rio onde ele se estica, espreguiça-se ao sol e murmura: Volta sempre Mingos, esta é a tua ponte.


Ponte de Prado.  
Na alma para sempre.  

 

 

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