O Fim Está Perto… Mas Só Depois do Autocarro

Ali estava ele: cabelo pintado com marcador flurescente, calças rasgadas de formasemi-natural e um sininho amarrado ao tornozelo que tilintava cada vez que ele dava um passo — que, por sinal, era raro.
Andava mais em círculos, como se estivesse à procura do sentido da vida… ou de um café com WC decente.
"O fim está perto!", gritou ele para um grupo de escuteiros desorientados.Sim, sim, mas primeiro deixa passar o autocarro, respondeu um velhote todo atento.
De repente, do outro lado do arco, surge uma senhora com um cão vestido de frade franciscano, tinha capucho e tudo.
O cão, visivelmente mais lúcido que o dono do sino, olhou e abanou a cabeça, como quem diz: Outra vez...? fds!.
A certa altura, o sininho do -apocalipse- sentou-se no chão e começou a cantar
"Avé Maria"versão techno, acompanhado por uma lata vazia que servia de tambor.
E eu, curioso por natureza e pouco ajuizado por hábito, sentei-me ali perto e perguntei:
Desculpe, mas está tudo bem?
Estou a alinhar os chakras da cidade, disse ele, muito sério.
E precisa de fazer isso em frente ao Arco?
Claro!É aqui que a energia bate no granito com mais força!
Sem dúvida, caro que é!.
E ao fim de uns minutos de observação, dei por mim a filosofar:Uns tocam sininhos, outros tocam buzinas, uns ladram outros uivam.
Mas todos, no fundo, são boas pessoas, custam a criar mas de grandes metem graça.
Pensei dar-lhe uma moeda, mas ele com certeza só aceitava vibrações positivas.
E é assim, eu voltei para casa com os chakras desalinhados, mas com o riso bem no sítio.