QUINTA DA FERNANDES

05-01-2025

Quando era jovem, as alturas eram o meu domínio. Ágil como um gato e com pouco peso, fui convocado múltiples vezes para retelhar os telhados quase em ruínas da Quinta da Fernandes, uma propriedade governada por três irmãs idosas e vigilantes, que pareciam orquestrar os meus movimentos como se estivessem a dirigir um espetáculo.

Confesso que era o predileto da "Menina Lindinha", cujo nome só fazia sentido com muita imaginação. Mas eu nunca me queixei: pão com queijo e marmelada acompanhado de cerveja é combustível para qualquer jovem aprendiz da Universidade da Vida.

Os anos passaram. Viajei pelo mundo, mas ao regressar, a Quinta da Fernandes estava em ruínas, como se o tempo tivesse decidido que os telhados já não valiam a pena. As irmãs tinham partido para o seu descanso eterno, mas... parece que não se habituaram ao descanso.

Dizem os rumores que qualquer tentativa de remodelação da quinta termina em caos: ferramentas desaparecem, andaimes caem sem explicação, e até os pedreiros mais corajosos fogem a meio da obra, jurando que nunca mais.

A Quinta permanece intocável, como se as irmãs ainda reinassem sobre ela, garantindo que os humanos não interfiram na sua propriedade.

Afinal, parece que a herança delas não foi a terra, mas sim a determinação de manterem a Quinta do seu jeito, nem que seja do outro lado da vida. Talvez estejam à espera de alguém ágil e jovem para recomeçar os trabalhos... mas desta vez, acho que passo.

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